quarta-feira, 3 de outubro de 2012




Cinema, Freixo e a Revolução Egípcia (ou Quando os Elefantes vão à Guerra até a Grama Sofre)


        Ainda surpreendo-me com a capacidade de transformação/transmissão de uma sala de cinema. Não saberia afirmar, exatamente, quantas vezes tive esta sensação, mas posso afirmar que uma renovação, principalmente ideológica, sempre é benigna. Assisti o debate da Record na terça e ontem fui, pela primeira vez este ano, ao Festival do Rio. A princípio, aos olhos de qualquer vago leitor, tais recortes pouco têm haver entre si. Pois bem, surpreenda-se também.

Os filmes assistidos foram “Documentando... Uma Revolução”, sobre a Revolução Egípcia, e “Síria, Arrebentando no Ponto mais Fraco”. Confesso, desde já, que há muito não me emocionava tanto no cinema. Foi maravilhoso ver dois povos lutarem por causas tão latentes no mundo atual com uma raiva furiosamente jovem, sempre contadas por um ponto de vista pouco convencional em nossos meios televisivos. Civis, alguns desarmados outros nem tanto, esbravejando que morreriam por uma causa maior, a liberdade de seus semelhantes. E acreditem, pela primeira vez ouvi esta frase e ela não me soou fascista. Eles realmente acreditavam no bem-estar do próximo e das próximas gerações. Eles realmente acreditavam que tinha chegado a hora de lutar. Eles realmente acreditavam que nada deveria parecer impossível de mudar, apesar de muitas coisas nunca terem. Tudo isso a partir de um meio de comunicação revolucionário: este meio que vos transmito minha singela opinião.
       
        Voltando para o Rio de Janeiro, que pela primeira vez em sua história foi diminuído em apenas um pelo Dudu, chegamos a Marcelo Freixo. Não tão primeiramente assim, mas ainda sendo válido, quero frisar que até ontem meu voto seria nulo. Não confio em político algum e, muito menos, nesta máquina política taxada, rudimentarmente e demagogamente, de democrática. Mas todos devem ser tangíveis a mudanças, e abrir a própria cabeça às vezes se faz necessário. Porém, sempre deixar de querer o impossível para algo mais recorrente traz menos sofrimento. E eu amadureci na primavera carioca, exatamente após uma cena do filme “Documentando...”.

        Com a Praça Tahrir já dominado pelo povo egípcio, após batalhas homéricas em 18 dias de confrontos, todos os expoentes da terceira civilização que mais me agrada historicamente estavam sedentos pelo anúncio oficial da renúncia do presidente. Este pede o microfone de fala: “Eu também tenho filhos e acreditem, eu também já fui jovem como vocês”. A cena é cortada para uma entrevista com uma ativista que diz, categoricamente: “Eu não posso afirmar se ele já foi jovem, porém posso garantir-lhes que nunca foi como nós”. Esta ênfase, quase que arrogante, faltava ao jovem. Mas já não falta mais. A cena volta para a Praça Tahrir, mostrando o povo caminhando em direção ao palácio presidencial. Após cercado, o presidente enfim renuncia convencido de suas próprias limitações. Depois é pura literatura. Fez-se o carnaval fora de época. Festa muito mais comemorada, pela simples razão de ter motivos para tal. A liberdade não lhes bateu a porta. Eles a escacharam antes de ela poder pronunciar suas últimas palavras. Agora eles a controlariam, ninguém mais. Enfim, a juventude chegava ao poder. Sem lideres. Sem princípios. Sem ambição de domínio. Apenas a demonstração da força de um povo. Apenas a demonstração de um povo.

A partir dali entendi a campanha do Freixo. Um adversário que tem 17 minutos de campanha eleitoral em comparação aos 13 de todos os outros candidatos juntos não pode ser taxado como democrático. Todos sabem pelo histórico do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) que este nunca teve ambição alguma de, sequer, fazer jus ao próprio nome. A hora de mostrar o que este câncer político brasileiro representa é agora.

O Segundo turno seria de uma avalanche desmoralizante que, talvez, faria com que todos os candidatos repensarem suas campanhas daqui pra frente. Meus caros, seria com muito prazer que afirmaria ver o conteúdo ultrapassar a forma. O que a internet representa para a comunicação do indivíduo jamais poderia ficar fora de uma conversa eleitoral/política. E Freixo a utilizou com louvor, funcionalmente e semanticamente falando.

Havendo segundo turno ou não, gostaria de deixar registrado que esta foi a maior campanha eleitoral que já vivenciei, e agradecer ao Marcelinho por ter levado tantos jovens, não só a crer na mudança política, mas, principalmente, por ter-lhes dado prazer em discuti-la. Mcluhan afirmou que o meio é a mensagem, mas ele não vivenciou a virtualidade de nossa época. Eu, carlitianamente como sempre, afirmo que o meio é a revolução e grito: “Uh, é o Freixo; Uh, é o Freixo”.