Cinema, Freixo e a Revolução
Egípcia (ou Quando os Elefantes vão à Guerra até a Grama Sofre)
Ainda surpreendo-me com a capacidade de
transformação/transmissão de uma sala de cinema. Não saberia afirmar,
exatamente, quantas vezes tive esta sensação, mas posso afirmar que uma
renovação, principalmente ideológica, sempre é benigna. Assisti o debate da
Record na terça e ontem fui, pela primeira vez este ano, ao Festival do Rio. A
princípio, aos olhos de qualquer vago leitor, tais recortes pouco têm haver entre
si. Pois bem, surpreenda-se também.
Os filmes assistidos foram “Documentando... Uma
Revolução”, sobre a Revolução Egípcia, e “Síria, Arrebentando no Ponto mais
Fraco”. Confesso, desde já, que há muito não me emocionava tanto no cinema. Foi
maravilhoso ver dois povos lutarem por causas tão latentes no mundo atual com
uma raiva furiosamente jovem, sempre contadas por um ponto de vista pouco
convencional em nossos meios televisivos. Civis, alguns desarmados outros nem
tanto, esbravejando que morreriam por uma causa maior, a liberdade de seus semelhantes.
E acreditem, pela primeira vez ouvi esta frase e ela não me soou fascista. Eles
realmente acreditavam no bem-estar do próximo e das próximas gerações. Eles realmente
acreditavam que tinha chegado a hora de lutar. Eles realmente acreditavam que
nada deveria parecer impossível de mudar, apesar de muitas coisas nunca terem.
Tudo isso a partir de um meio de comunicação revolucionário: este meio que vos
transmito minha singela opinião.
Voltando para o Rio de Janeiro, que pela
primeira vez em sua história foi diminuído em apenas um pelo Dudu, chegamos a
Marcelo Freixo. Não tão primeiramente assim, mas ainda sendo válido, quero
frisar que até ontem meu voto seria nulo. Não confio em político algum e, muito
menos, nesta máquina política taxada, rudimentarmente e demagogamente, de democrática.
Mas todos devem ser tangíveis a mudanças, e abrir a própria cabeça às vezes se
faz necessário. Porém, sempre deixar de querer o impossível para algo mais recorrente
traz menos sofrimento. E eu amadureci na primavera carioca, exatamente após uma
cena do filme “Documentando...”.
Com a Praça Tahrir já dominado pelo povo
egípcio, após batalhas homéricas em 18 dias de confrontos, todos os expoentes
da terceira civilização que mais me agrada historicamente estavam sedentos pelo
anúncio oficial da renúncia do presidente. Este pede o microfone de fala: “Eu
também tenho filhos e acreditem, eu também já fui jovem como vocês”. A cena é
cortada para uma entrevista com uma ativista que diz, categoricamente: “Eu não
posso afirmar se ele já foi jovem, porém posso garantir-lhes que nunca foi como
nós”. Esta ênfase, quase que arrogante, faltava ao jovem. Mas já não falta
mais. A cena volta para a Praça Tahrir, mostrando o povo caminhando em direção
ao palácio presidencial. Após cercado, o presidente enfim renuncia convencido
de suas próprias limitações. Depois é pura literatura. Fez-se o carnaval fora
de época. Festa muito mais comemorada, pela simples razão de ter motivos para
tal. A liberdade não lhes bateu a porta. Eles a escacharam antes de ela poder
pronunciar suas últimas palavras. Agora eles a controlariam, ninguém mais.
Enfim, a juventude chegava ao poder. Sem lideres. Sem princípios. Sem ambição
de domínio. Apenas a demonstração da força de um povo. Apenas a demonstração de
um povo.
A partir dali entendi a campanha do Freixo. Um adversário
que tem 17 minutos de campanha eleitoral em comparação aos 13 de todos os
outros candidatos juntos não pode ser taxado como democrático. Todos sabem pelo
histórico do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) que este nunca
teve ambição alguma de, sequer, fazer jus ao próprio nome. A hora de mostrar o
que este câncer político brasileiro representa é agora.
O Segundo turno seria de uma avalanche
desmoralizante que, talvez, faria com que todos os candidatos repensarem suas
campanhas daqui pra frente. Meus caros, seria com muito prazer que afirmaria
ver o conteúdo ultrapassar a forma. O que a internet representa para a
comunicação do indivíduo jamais poderia ficar fora de uma conversa
eleitoral/política. E Freixo a utilizou com louvor, funcionalmente e
semanticamente falando.
Havendo segundo turno ou não, gostaria de deixar
registrado que esta foi a maior campanha eleitoral que já vivenciei, e agradecer
ao Marcelinho por ter levado tantos jovens, não só a crer na mudança política,
mas, principalmente, por ter-lhes dado prazer em discuti-la. Mcluhan
afirmou que o meio é a mensagem, mas ele não vivenciou a virtualidade de nossa
época. Eu, carlitianamente como sempre, afirmo que o meio é a revolução e
grito: “Uh, é o Freixo; Uh, é o Freixo”.