domingo, 14 de abril de 2013




Quando o profeta fica em dúvida

         Ausentei-me nestes últimos tempos por conta de uma mallandragem inesperada, mas espero voltar ao mesmo ritmo de outrora. Preciso começar já alertando-vos sobre o meu receio com relação a toda esta euforia alvinegra. O nosso clube nunca ganhou nada partindo da alegria ou da excitação. Nossas glórias são provenientes de muitos ensaios, pancadarias e discussão. E vale ressaltar que metade das decisões do Botafogo são resolvidas na mesa de bar, pois é lá aonde montamos nossas assembléias constitucionais do futebol ultrajante.
         Nós devemos nos precaver, desde já, a qualquer imprevisto que apareça. E, faço questão de frisar, surpresas nunca foram surpreendentes no nosso habitat. Todos reclamaram do pagamento integral de nossa dívida a partir dos direitos televisivos. Todos reclamaram que o Grande Engenho foi fechado de forma irregular. Todos reclamaram da expulsão absurda do Seedorf. Beleza, nos primeiros dias após estes acontecimentos eu também fiquei revoltado. Mas o Botafogo não merece a revolta infantil de seus discípulos. Se ganharmos sem ter do que reclamar, não comemoraremos. Gostamos que nos roubem, porque gostamos de sobressair aos infames desta terra.
         Mas isso não é algo relevante perante o primordial erro. Estamos cantando vitória antes da hora. Esta é a principal afronta que podemos cometer. Este grupo de coitados que se sente na dignidade de torcer pelo Botafogo, trajados de fúria, estão nos levando para uma das maiores catástrofes de nossa história. São tão espertos e sagazes que ainda hoje não analisaram que nós perdemos quando temos tudo para ganhar e que ganhamos quanto temos tudo para perder. E, mesmo quando esta equação de torna real, os titãs saem da prisão e aterrorizam nossa casa. Alguns parnasianos chamam isto por Roda Viva, eu prefiro chamar por Botafogo. E vou mais além, afirmo que qualquer ser que tem o encéfalo desenvolvido não consegue dormir por medo dos titãs. E eles estão se aproximando, com suas cabeças de dinossauro.
         Este momento histórico em que vivemos me faz recordar de uma cena bem peculiar que é de meu encanto. O protagonista está sentado à mesa, numa reunião familiar, quando uma tia-avó distante resolve interromper seu desafogo psicológico questionando-o sobre o caminho religioso que este daria para sua recém-nascida cria. Assustado com tamanha audácia, pensa no significa de caminho e de religioso e responde sabiamente:
         -Não saberia dizer ao certo, ainda estou em dúvida entre o ateísmo e o agnosticismo.
         Aprendam, meus caros, que o caminho para a gloria não deve ser tramado pelo objetivo, mas pelo acaso. A obrigação e as análises precoces só servem para nos convencer a bater cabeça contra o real, enquanto que de real o Botafogo não tem nada. Volto a repetir, o Botafogo é pura literatura. E qualquer escritor de meia categoria sabe o quão obscuro é a próxima página.

Um comentário:

  1. é engraçado de mais esse fanático mundo pessimista botafoguense.
    me divirrto

    ResponderExcluir