Quando o profeta fica em dúvida
Ausentei-me nestes últimos tempos por
conta de uma mallandragem inesperada, mas espero voltar ao mesmo ritmo de
outrora. Preciso começar já alertando-vos sobre o meu receio com relação a toda
esta euforia alvinegra. O nosso clube nunca ganhou nada partindo da alegria ou
da excitação. Nossas glórias são provenientes de muitos ensaios, pancadarias e discussão.
E vale ressaltar que metade das decisões do Botafogo são resolvidas na mesa de
bar, pois é lá aonde montamos nossas assembléias constitucionais do futebol
ultrajante.
Nós devemos nos precaver, desde já, a
qualquer imprevisto que apareça. E, faço questão de frisar, surpresas nunca
foram surpreendentes no nosso habitat. Todos reclamaram do pagamento integral
de nossa dívida a partir dos direitos televisivos. Todos reclamaram que o
Grande Engenho foi fechado de forma irregular. Todos reclamaram da expulsão absurda
do Seedorf. Beleza, nos primeiros dias após estes acontecimentos eu também fiquei
revoltado. Mas o Botafogo não merece a revolta infantil de seus discípulos. Se
ganharmos sem ter do que reclamar, não comemoraremos. Gostamos que nos roubem, porque
gostamos de sobressair aos infames desta terra.
Mas isso não é algo relevante perante o
primordial erro. Estamos cantando vitória antes da hora. Esta é a principal
afronta que podemos cometer. Este grupo de coitados que se sente na dignidade
de torcer pelo Botafogo, trajados de fúria, estão nos levando para uma das
maiores catástrofes de nossa história. São tão espertos e sagazes que ainda
hoje não analisaram que nós perdemos quando temos tudo para ganhar e que
ganhamos quanto temos tudo para perder. E, mesmo quando esta equação de torna
real, os titãs saem da prisão e aterrorizam nossa casa. Alguns parnasianos
chamam isto por Roda Viva, eu prefiro chamar por Botafogo. E vou mais além,
afirmo que qualquer ser que tem o encéfalo desenvolvido não consegue dormir por
medo dos titãs. E eles estão se aproximando, com suas cabeças de dinossauro.
Este momento histórico em que vivemos
me faz recordar de uma cena bem peculiar que é de meu encanto. O protagonista
está sentado à mesa, numa reunião familiar, quando uma tia-avó distante resolve
interromper seu desafogo psicológico questionando-o sobre o caminho religioso
que este daria para sua recém-nascida cria. Assustado com tamanha audácia,
pensa no significa de caminho e de religioso e responde sabiamente:
-Não saberia dizer ao certo, ainda estou
em dúvida entre o ateísmo e o agnosticismo.
Aprendam, meus caros, que o caminho
para a gloria não deve ser tramado pelo objetivo, mas pelo acaso. A obrigação e
as análises precoces só servem para nos convencer a bater cabeça contra o real,
enquanto que de real o Botafogo não tem nada. Volto a repetir, o Botafogo é
pura literatura. E qualquer escritor de meia categoria sabe o quão obscuro é a próxima
página.
é engraçado de mais esse fanático mundo pessimista botafoguense.
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